"Assim como no Universo e na natureza, minha obra é permeada por simetria, cor, organicidade, ritmos e gestualidade"

Eliana Pierri

Buscando refletir sobre o fazer artístico, a frase de Mario Pedrosa "a arte é o exercício experimental de liberdade" talvez seja onde melhor encontrei a inspiração e essência do meu fazer artístico. Nesse sentido, busquei aperfeiçoar minha técnica de desenho, pintura, escultura e xilogravura, com o objetivo de que esta experimentação me possibilitasse obter ferramentas a serviço da expressão e da busca de minha poética pessoal. Nesta trajetória percebi que inteireza é a palavra-chave da minha produção artística. Acredito que esta, se manifeste no compromisso de lançar mão da técnica em prol do protagonismo da expressão, não importando se a estética da obra será figurativa ou não figurativa, bidimensional ou tridimensional, adotando para cada projeto a técnica que melhor viabilize a expressão de ideias e conceitos.

Essas questões, inquietações e anseios de me expressar através da arte, surgiram ainda no final da década de 70. Em meio a atmosfera repressiva que marcou aquele período histórico no Brasil e de minha criação familiar conservadora, pude encontrar refúgio e estímulo a partir de uma bolsa de estudos, que me possibilitou experimentar o ambiente de criação e liberdade artística da FAAP. A partir da inspiração e incentivo de figuras decisivas em minha trajetória, especialmente Luigi Zanotto e Ana Luiza Bellucci aos quais serei eternamente grata por sua proximidade e crença no meu potencial, despertei ainda tão jovem a confiança em meu olhar e sensibilidade.

Através de inúmeras práticas de atelier como desenhos e pinturas de observação de composições com elementos, paisagens e estudos de anatomia humana com modelo vivo, desenvolvi ferramentas de criação que me possibilitaram expressar toda a asfixia e angústia que se delineava no meu ser no ano de 80. Esse processo se desenvolveu devido às incertezas de minha permanência no campo das artes visuais. Minha continuidade se encontrava ameaçada em virtude da falta de apoio familiar para essa escolha, consequentemente se apresentavam as dificuldades socioeconômicas para prosseguir estudando e atuando no campo.

No ano seguinte, 1981, tais circunstâncias acabaram por me afastar das artes visuais, me enclausurando e me recortando enquanto pessoa, para caber em um padrão tradicional idealizado por minha família.

Em 1986, tendo concluído o curso de bacharel em Administração, trilhei meu caminho nos ambientes corporativos e encontrei a satisfação financeira, mas me sentia mutilada e aprisionada em uma realidade diferente da que almejei para mim. Após o nascimento da minha filha, em 1994, me tornei uma profissional liberal, o que me permitiu maior flexibilidade de horários para acompanhar seu desenvolvimento, e para, desde cedo, apoiar e viabilizar os seus sonhos, que incluíam estudos de musica e teatro. Esse profundo desejo de possibilitar a minha filha sua realização e liberdade de expressão para ser quem ela almejasse, me reconectaram comigo mesma, com o desejo de resgatar meus sonhos, que há tantos anos estavam sendo silenciados e negligenciados.

Somente em 2004, retomei a prática de atelier com a orientação do artista Fernando Burjato. Nesse período, aprimorei meus conhecimentos de desenho e pintura, composição e cor, colagem e técnicas mistas. Em paralelo, conciliei a prática de modelagem em argila, escultura e xilogravura, sob a orientação de Silvana Brunelli. Durante um ano, me dediquei, simultaneamente, ao estudo e prática de teatro, com o intuito de me libertar de tabus que cerceavam a fluidez do desenvolvimento de meus impulsos criativos. Agreguei essa experiência oriunda do teatro no sentido de subverter a forma em prol da licenciosidade poética e expressividade de minhas obras.

Nesse momento, forma, ritmo e cor tornam-se protagonistas das minhas obras. Desenvolvi, aprimorei e subverti exaustivamente as técnicas figurativas, esgotado esse processo, desenvolveu-se em mim um grande desejo de explorar o potencial artístico e poético dos limites das formas e das cores.

Percebi que através desta linguagem era possível potencializar a expressão daquilo que em meu interior se manifestava. Desde então tenho criado, predominantemente, obras inspiradas no que observo dentro de mim e menos no que meus olhos captam do mundo ao meu redor.

Nesse momento, forma, ritmo e cor tornam-se protagonistas das minhas obras. Desenvolvi, aprimorei e subverti exaustivamente as técnicas figurativas, esgotado esse processo, desenvolveu-se em mim um grande desejo de explorar o potencial artístico e poético dos limites das formas e das cores.

Percebi que através desta linguagem era possível potencializar a expressão daquilo que em meu interior se manifestava. Desde então tenho criado, predominantemente, obras inspiradas no que observo dentro de mim e menos no que meus olhos captam do mundo ao meu redor.